Apesar de noutros países o pop e o rock terem começado a ter um lugar nas universidades, nas academias portuguesas estes géneros continuam a ser relegados de jure para o estatuto difuso da cultura de massa, quando não lhes é negada de facto a possibilidade de uma existência singular. Tratar o texto de uma canção como literatura, assimilar a produção do pop e do rock à poesia, não é uma mera provocação sem conteúdo. Nas comunidades urbanas só uma minoria consome livros e é ínfima a percentagem de gente que, dentro dessa minoria, lê poesia; no entanto, a maior parte da população consome poesia todo o tempo através das canções que ouve na rádio ou na televisão, em CD’s e concertos. Mas o rock é também poesia em acto e nessa medida suscita inquirições acerca da teatralização das palavras cantadas. O colóquio, "Poéticas do rock em Portugal, propõe-se, neste sentido, abrir um espaço para o estudo das principais vozes do rock em Portugal e o exame particular das suas obras. Procura propiciar a análise de traços temáticos, retóricos, estilísticos e composicionais de um autor ou de um movimento, assim como também avaliar as visões do mundo que transparecem nas suas letras, naquilo que têm de singular, isto é, naquilo que as fazem diferenciarem-se entre si, mas também naquilo que as tornam diferentes, outras – por exemplo – do rock anglo-saxónico. É um facto que o rock é um género onde a poesia é indissociável da música – trata-se de textos para ser ouvidos. Contudo, acreditamos que esta poesia podia ser abordada independentemente da música, e neste sentido retomamos uma das tradições mais antigas da crítica literária (a do estudo da tragédia grega, um género de poesia para ser cantada, do qual só herdamos os textos). Falar de poéticas do rock supõe, por fim, uma simplificação metodológica. Do blues ao hip-hop, do pop ao reggae, passando inclusive pela canção popular portuguesa, as fronteiras são lábeis e muitas vezes difíceis de determinar. Em vez de restringir as possibilidades da análise, portanto, com esta denominação genérica pretendemos apontar para um plano de variação sobre o que a poesia encontra – inesperadamente – a possibilidade dum outro jogo.
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